top of page

Improvisações que permanecem: mudança contínua e emergente, e as consequências não antecipadas.

Improvisações que permanecem: mudança contínua e emergente, e as consequências não antecipadas.


A pandemia de Covid 19 foi o gatilho de uma série de mudanças em todo o mundo. Novas (algumas nem tanto) formas de trabalho surgem e governos, sociedade civil e organizações precisaram se adaptar para lidar com o turbilhão que estamos vivenciando.

Mas como sairemos disso? O que está sendo criado e aperfeiçoado, e até mesmo os erros de agora servirão de lição para, numa perspectiva de fluxo, construirmos um futuro melhor para todos?


“As demandas contemporâneas para que as organizações sejam flexíveis, responsivas e capazes de aprender, requerem práticas organizacionais especificas para lidar com as mudanças contínuas, que são em geral localizadas e endêmicas às práticas das organizações."

- Wanda J. Orlikowski (1991)


Para entendermos isso, é importante compreendermos os conceitos ligados a mudança organizacional. Sua importância cresce a medida que o avanço tecnológico leva a formas cada vez mais rápidas de se processar informações. O que é a mais recente novidade pode não sê-lo mais em uma fração de tempo, sem que as organizações ou indivíduos, isolados ou conjuntamente, possam agir para controlar isto. No campo dos estudos organizacionais, há diversas formas como a mudança é tratada. Não há um consenso sobre esse assunto, apesar de ser de longa data o debate.


Em primeiro lugar, há a visão de mudança planejada, segundo a qual os gestores são a força primária da mudança. Para os defensores dessa ótica, os atores deliberadamente iniciam e implementam transformações em resposta a oportunidades percebidas para melhorar a performance da organização ou para se ajustar ao ambiente competitivo. O ponto fraco desta perspectiva reside em tratar a mudança como algo que pode ser gerido separadamente do processo contínuo de ‘organizar’, e por colocar peso excessivo na racionalidade dos gestores.


Outra perspectiva por vezes adotada é a do imperativo tecnológico, que entende a tecnologia como motor primário e relativamente autônomo da mudança. Ou seja, adotar novas tecnologias cria transformações previsíveis e controláveis nas organizações. Sua falha reside em retirar a importância da ação humana em mudanças proativas, controverso principalmente para o discurso de que os atores devem explorar novas possibilidades, aprender, inovar e criar alternativas ao longo do tempo em diferentes circunstâncias. Além disso, é incompatível com a natureza aberta de novas tecnologias que permitem a customização pelo usuário, devendo a tecnologia ser considerada um meio e não um fim.


Há também a visão do equilíbrio pontuado, que assume a mudança organizacional como rápida, episódica e radical. O equilíbrio, nessa ótica, é afetado por descontinuidades pontuais, que são geralmente acionadas por modificações nas condições ambientais ou internas das organizações, tais como novas tecnologias, redesenho de processos ou desregulações das indústrias. O problema desta perspectiva é que parte da premissa da primazia da estabilidade organizacional, como se o ambiente intra e extraorganização fossem naturalmente estáveis.


Mintzberg traz uma perspectiva de mudança emergente, que é a o entendimento de um novo padrão de organizar, que reside na ausência de intenções explicitas a priori. Essa transformação emergente não pode ser antecipada ou planejada, apenas realizada em ação, na prática. Essa perspectiva que coloca mudança acima da estabilidade na vida organizacional oferece uma lente conceitual mais apropriada para entender as organizações na atualidade.


A transformação da organização é baseada nas práticas contínuas dos ‘atores’ nas organizações e emergem de seus (tácitos ou não) experimentos, acomodações com as contingências diárias e cotidianas, quebras, problemas, oportunidades e consequências não intencionais que encontram.


A mudança é vista como improvisação contínua criada pelos atores organizacionais tentando compreender a realidade e agir com coerência no mundo.


Por meio de uma série de acomodações e adaptações contínuas e localizadas (que se baseiam nas variações anteriores e mediam as futuras), modificações importantes podem ser alcançadas ao longo do tempo para que mudanças fundamentais sejam alcançadas.


Não há orquestração ou orientação de mudança deliberada aqui, apenas variações recorrentes na prática ao longo do tempo. Cada mudança na prática cria condições para mais falhas, resultados não alcançados e inovações às quais, por sua vez, são respondidas com mais variações. E essas variações estão sempre em andamento: não há ponto inicial ou final nesse processo de mudança.


E nesse ponto nos encontramos: a pandemia reorganizou a forma como trabalhamos, negociamos, relacionamos (com clientes, amigos e familiares), enfim, como vivemos. Não se sabe o tempo que levará para sairmos dela totalmente, o que nos conduzirá a um novo “normal”, porém, cada vez mais cientes do fluxo intrinsecamente caótico da realidade. Caberá às organizações e à sociedade como um todo preservar o que de melhor foi construído de improviso e continuamente aperfeiçoar a forma como vivemos e nos relacionamos.




Comments


Featured Posts
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Recent Posts
Archive
Search By Tags
Follow Us
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Social Icon
bottom of page