PIB não é uma medida do bem-estar Humano
O crescimento econômico elevou os padrões de vida em todo o mundo.
No entanto, as economias modernas perderam de vista o fato de que a métrica, padrão de crescimento econômico, produto interno bruto (PIB), apenas mede o tamanho da economia de uma nação e não reflete o bem-estar de uma nação.
No entanto, os políticos e economistas costumam tratar o PIB, ou PIB per capita, em alguns casos, como uma unidade abrangente para significar o desenvolvimento de uma nação, combinando sua prosperidade econômica e bem-estar social. Como resultado, políticas que resultam em crescimento econômico são vistas como benéficas para a sociedade.
“Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar”
-Lord Kevin (pai do zero absoluto)
Sabemos agora que a história não é tão simples assim - que o foco exclusivo no PIB e no ganho econômico para medir o desenvolvimento ignora os efeitos negativos do crescimento econômico na sociedade, como as mudanças climáticas e a desigualdade de renda. É hora de reconhecer as limitações do PIB e expandir o desenvolvimento de novas medidas, para que elas levem em consideração a qualidade de vida da sociedade em geral.
Vários países estão começando a fazer isso. A Índia, por exemplo, está desenvolvendo um Índice de Facilidade de Vida, que mede qualidade de vida, capacidade econômica e sustentabilidade.
Enquanto nossas medidas de desenvolvimento vão apenas na direção de uma produção cada vez mais elevada, a resultante prejudicial para a sociedade é que nossas intervenções políticas e organizacionais ficarão ainda mais alinhadas na contramão dos aspectos da vida que os cidadãos realmente valorizam e que a sociedade necessita.
Mas antes de tentarmos aprimorar o conceito de PIB, é instrutivo entender suas raízes.
As origens do PIB
Como muitas das invenções onipresentes que nos cercam, a concepção moderna de PIB era um produto da guerra. Enquanto Simon Kuznets é frequentemente creditado com a invenção do PIB (desde que ele tentou estimar a renda nacional dos Estados Unidos em 1932 para entender toda a extensão da Grande Depressão), a definição moderna de PIB foi desenvolvida por John Maynard Keynes durante o segunda Guerra Mundial.
Em 1940, um ano após a guerra com a Alemanha, Keynes, que trabalhava no Tesouro do Reino Unido, publicou um ensaio reclamando sobre a inadequação das estatísticas econômicas para calcular o que a economia britânica poderia produzir com os recursos disponíveis. Ele argumentou que essa escassez de dados dificultava a estimativa da capacidade de mobilização e conflito da Grã-Bretanha.
Segundo ele, a estimativa de renda nacional deve ser a soma do consumo privado, dos investimentos e dos gastos do governo. Ele rejeitou a versão de Kuznets, que incluía renda do governo, mas não gastos, em seu cálculo.
Keynes percebeu que se a compra do governo em tempo de guerra não fosse considerada demanda no cálculo da renda nacional, o PIB cairia apesar do crescimento econômico real. Seu método de calcular o PIB, incluindo os gastos do governo com a renda de um país, impulsionado pelas necessidades de guerra, logo encontrou aceitação em todo o mundo, mesmo após o término da guerra.
E continua até hoje.
O PIB fica limitado como medida de desenvolvimento
Uma medida criada para avaliar as capacidades de produção em tempo de guerra, apresenta desvantagens óbvias em tempos de paz.
Por um lado, o PIB, por definição, é uma medida agregada que inclui o valor de bens e serviços produzidos em uma economia durante um determinado período de tempo. Não há espaço para os efeitos positivos ou negativos criados no processo de produção e desenvolvimento.
Por exemplo, o PIB recebe uma contagem positiva dos carros que produzimos, mas não responde pelas emissões de gases que geram; agrega o valor das bebidas açucaradas que vendemos, mas não subtrai os problemas de saúde que causam; inclui o valor de construir novas cidades, mas não desconta as florestas vitais que elas substituem. Como Robert Kennedy colocou em seu famoso discurso eleitoral em 1968, "o PIB (GDP em Inglês), em suma mede tudo, exceto aquilo que faz verdadeiramente a vida valer a pena".
A degradação ambiental é uma externalidade significativa que a medida do PIB não conseguiu refletir. A produção de mais bens aumenta o PIB de uma economia, independentemente dos danos ambientais sofridos por causa disso.
Portanto, de acordo com o PIB, um país como a Índia é considerado um país no caminho do crescimento, embora os invernos em Délhi estejam cada vez mais cheios de fumaça e os lagos de Bengaluru sejam mais propensos a incêndios. As economias modernas precisam de uma melhor medida de bem-estar que leve em consideração essas externalidades para obter um reflexo mais verdadeiro do desenvolvimento.
A ampliação do escopo da avaliação para incluir externalidades ajudaria a criar um foco político para abordá-las.
O PIB também falha em capturar a distribuição de renda na sociedade - algo que está se tornando mais pertinente no mundo de hoje, com o aumento dos níveis de desigualdade nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não podemos diferenciar uma sociedade desigual de uma sociedade igualitária, se elas tiverem dimensões econômicas semelhantes.
Como a crescente desigualdade social está resultando no aumento do descontentamento humano e no aumento da polarização socioeconômica, os políticos e líderes empresariais precisarão dar conta dessas questões ao avaliar o que chamam de crescimento e desenvolvimento.
Outro aspecto das economias modernas que torna o PIB anacrônico é seu foco desproporcional no que é produzido. As sociedades de hoje são cada vez mais impulsionadas pela crescente economia de serviços - desde as compras na Amazon até os táxis reservados no Uber. Como a qualidade da experiência está substituindo a produção incansável, a noção de PIB está rapidamente perdendo espaço.
Vivemos em um mundo em que as mídias sociais oferecem inúmeros tipos de informações e entretenimento sem nenhum preço, cujo valor não pode ser encapsulado por figuras simplistas. Nossa medida de crescimento e desenvolvimento econômico também precisa se adaptar a essas mudanças, a fim de fornecer uma imagem mais precisa da economia moderna.
Como a Índia está redefinindo suas medidas de desenvolvimento
Precisamos de métricas alternativas para complementar o PIB, a fim de obter uma visão mais abrangente do desenvolvimento e garantir a elaboração de políticas que não priorizem exclusivamente o crescimento econômico.
Já estamos vendo alguns esforços, como a tentativa do Butão de medir a Felicidade Nacional Bruta, que considera fatores como desenvolvimento socioeconômico equitativo e boa governança, e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD, que engloba saúde e conhecimento além da prosperidade econômica.
Como um passo nessa direção, a Índia também está começando a se concentrar na facilidade de vida de seus cidadãos. A facilidade de vida é o próximo passo na estratégia de desenvolvimento para a Índia, após o esforço para facilitar os negócios que o país alcançou nos últimos anos.
O Ministério da Habitação e Assuntos Urbanos desenvolveu o Índice de Facilidade de Vida para medir a qualidade de vida de seus cidadãos nas cidades indianas, além de capacidade econômica e sustentabilidade.
O objetivo final é ter uma sociedade mais justa e equitativa, economicamente próspera e que ofereça aos cidadãos uma qualidade de vida significativa.
Com uma mudança no barômetro daquilo que medimos e percebemos em termos de desenvolvimento, a forma de se estruturar nossas políticas também alcançará este entendimento e responderá às necessidades do contínuo crescimento, sem a destruição e desigualdade social.
Em uma economia com o bem-estar em seu coração, o crescimento econômico será simplesmente outra ferramenta para guiá-lo na direção que a sociedade escolher. Em tal economia, os pontos percentuais do PIB, que raramente estão relacionados à vida dos cidadãos comuns, deixarão de ocupar o centro do palco. Em vez disso, o foco mudaria para determinantes mais desejáveis e reais do bem-estar.